Mundano faz homenagem a indígenas e ativistas assassinados
- Solo3 Ecovibes
- 17 de nov. de 2023
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Nova obra do artivista traz o retrato de Ari Uru-Eu-Wau-Wau e o nome de dezenas de defensores da floresta para Praça da Sé
Por: Redação CicloVivo

A cidade de São Paulo acaba de ganhar uma obra do artivista Mundano em homenagem às centenas de indígenas e ativistas assassinados no Brasil nos últimos anos. Em uma empena de 618m2 na lateral de um prédio na rua Quintino Bocaiúva, a poucos metros da Catedral da Sé, Mundano retratou Ari Uru-Eu-Wau-Wau, indígena assassinado em abril de 2020, em Rondônia, e escreveu os nomes de dezenas de defensores da floresta que também foram assassinados.
Segundo dados da Global Witness, o Brasil é um dos países mais letais para defensores do meio ambiente.
O local escolhido tem relação com o tema e os materiais usados para a pintura. A obra foi executada com tinta produzida com terra coletada no Marco Zero de São Paulo, na praça da Sé, que foi misturada a cinzas de queimadas da Amazônia coletadas por Mundano há dois anos.
A produção do mural levou dez dias, foi realizada pela Parede Viva e contou com a assistência de mais quatro artistas: Everaldo Costa, Carolina Afolego, André Hulk e André Firmiano. O prédio fica localizado na rua Quintino Bocaiúva e a imagem pode ser vista da praça Dr. João Mendes, no centro de São Paulo.
“Onde hoje temos o marco zero da maior cidade da América Latina era território indígena, que foi ocupado em um processo de expulsão e morte dos povos originários que persiste até hoje. É o que estamos vendo na Amazônia, mas também em todas as regiões onde os indígenas ainda mantêm parte de suas terras. Por isso Ari foi retratado com terra do marco zero e cinzas da Amazônia – ambos territórios indígenas”, explica Mundano.

Ari Uru-Eu-Wau-Wau
Para o retrato de Ari Uru-Eu-Wau-Wau, Mundano inspirou-se em “Bananal”, obra de 1927 do pintor lituano-brasileiro Lasar Segall – uma das principais obras do movimento modernista brasileiro. Enquanto em Bananal só é mostrado o rosto e o pescoço do personagem, no mural de Mundano é possível ver o corpo e a mão de Ari, segurando a ponta de uma lança, como na imagem que ficou nacionalmente conhecida pela foto de Gabriel Uchida que ilustrou as matérias sobre sua morte. A diferença é sutil, mas reveladora de seu papel em sua comunidade
Ari Uru-Eu-Wau-Wau fazia parte da equipe de vigilantes Guardiões, que protege o território indígena, combatendo as invasões de madeireiros e grileiros. Ari era também professor na aldeia 621. Foi encontrado morto na manhã de 18 de abril de 2020, assassinado com aproximadamente quatro golpes na cabeça. Tinha apenas 33 anos.
A luta dos guardiões Uru-eu-wau-wau é mostrada no documentário “O Território”, que teve sessão especial na COP27 e que estará disponível para sessões comunitárias até 15 de dezembro (mais informações no final do texto).
Desmatamento
O desmatamento na Amazônia respondeu por 77% das emissões por mudança e uso da terra em 2021 – categoria responsável por metade dos gases de efeito estufa que o Brasil emitiu no ano passado. Os mais recentes dados do MapBiomas mostram que a perda de vegetação nativa em territórios indígenas foi de apenas 0,8% entre 1985 e 2021, contra 21,5% fora de áreas protegidas na Amazônia – o que comprova a importância dos territórios indígenas para o combate à crise climática.
Sessões comunitárias do documentário O Território
De 10 de outubro a 15 de dezembro, O Território estará disponível para exibições comunitárias independentes. Aclamado por público e crítica com 16 prêmios internacionais, participação em mais de 100 festivais pelo mundo e exibições em cinemas de 19 cidades no Brasil, o filme é uma coprodução com o povo Uru-eu-wau-wau, que tem o audiovisual como ferramenta de proteção da floresta em pé e das terras e culturas indígenas.

As sessões comunitárias são iniciativas independentes, gratuitas, e acontecem de forma privada em locais como escolas, cineclubes e outras comunidades. Após o filme, estimulamos que haja uma conversa sobre as questões trazidas por ele. Para organizar uma exibição, basta preencher este formulário – https://picturemotion.typeform.com/to/h2SrLxfa – e aguardar o e-mail com as instruções sobre como transmitir o filme e dicas para estimular uma discussão engajadora.
Homenagem a indígenas e ativistas assassinados
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